19 de janeiro de 2013

Do ofício.




Escrevo sem querer, apenas por não encontrar uma maneira de falar. As palavras se fazem refém dentro de mim, e eu me faço refém do que elas significam. Refém do peso que elas carregam, povoando minha mente, sufocando-me. A prisão é a folha em branco, é nela que despejo todos os verbetes condenados por mim. Qualquer palavra que caracterize o sentimento, é julgada e, quase sempre, sentenciada com culpa. Logo, cumprirá sua pena, figurando no papel.

Mas como é possível escrever apenas pela vontade de "esvaziar a chaminé"?, assim como desenvolvido por Dr. Breuer e Freud, seja na ficção (Quando Nietzsche Chorou), ou não. No fundo, o que nos trouxe até aqui foi a vontade de alcançar os olhos daqueles que desejamos chegar aos ouvidos. O que é escrito tem de ser lido, da mesma forma, o que tem para ser falado, também deve ser ouvido.

(*)

Uma pequena pausa, superar uma barreira: caneta falhando! seria uma boa analogia, se não fosse verdade. Pronto! Substituída.

(*)

Qual deve ser a diferença entre não ser lido, e não conseguir falar o que pensa? Em qual ponto as duas coisas se cruzam? Que dor elas compartilham? Será que depois de lido, e encontrando a chance de falar, saberemos a resposta? Separados por uma linha tênue de coincidências, unidos por um caminhão de dúvidas.

Acredito que aquele que escreve, o faz, decerto, pela emoção de imaginar que seus rabiscos estão sendo lidos por quem realmente queremos. É com esse propósito que deve fundamentar-se o simples ofício, daquele que, entalado pela vida, encontra na junção da folha em branco com a caneta, seus aliados.

A tecnologia espanta, aproxima, afasta, ajuda...
...são várias opiniões, sabemos disso. Ok! falaremos disso em outra postagem. Entretanto, nada substituirá o prazer em rabiscar uma folha, acredito eu. Depois de escrito, a digitação, é, lembro-me do tempo das máquinas datilográficas, ainda no colégio: dedos rápidos nas teclas, olhos atentos nos papéis. E uma dúvida pairava no ar: "como que ela não enfia os dedos nos espaços vazios do teclado?" Caraca, ela é demais! rs Era isso que eu pensava à respeito da secretária do colégio, isso nos anos 90. Faz um tempo, fez-se o tempo...

Até onde estaria disposto a chegar, caso tivesse a oportunidade de falar tudo que penso/sinto, provavelmente, não saberia dizer. Da mesma maneira que não sei onde minha imaginação me leva a partir do momento que começo a escrever. É a simetria das asas da borboleta, completando-se, e seguindo num voar rítmico, esperando o local de pousar.


(Júnior Vilas Bôas)





PS: Fica a dica do Livro: Quando Nietzsche Chorou. Boa leitura!

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