O agronegócio é o maior negócio da economia brasileira e da economia mundial,
gerando mais de um terço do PIB brasileiro, quase 40% do emprego formal e no
período de 1997 a 2009 o saldo comercial acumulado do agronegócio representou
US$405 bilhões. O Brasil é o segundo maior exportador de soja em grão do mundo,
é o primeiro nas exportações mundiais de suco de laranja e também é um grande
exportador de carne bovina, de frango e suína, além de outras commodities como
açúcar e café.
As carnes bovina, suína e de frango representaram no valor exportado pelo
agronegócio brasileiro em 1997 cerca de 6,8%, e em 2009 esta participação foi de
18,4% (US$11,78 bilhões). Isto quer dizer que somos competitivos do ponto de vista
da produção e nos aspectos tecnológicos, com significativas vantagens comparativas.
A crescente demanda chinesa por soja em grão provocou o crescimento da
produção brasileira nos últimos anos e segundo dados da Embrapa no período de
1990 a 2005, a taxa anual média de crescimento das exportações de soja em grão
foi de 14,82%, a taxa do óleo de soja foi de 8,6% e do farelo de soja, 3,16%. Esse
grande aumento na quantidade exportada de grãos ocorreu a partir de 1996 e foi
resultado da Lei Kandir, que desonerava de ICMS as exportações de bens
primários, com o objetivo de trazer mais receitas para uma balança comercial que
na época era deficitária.
Mas, é preciso observar que se por um lado a medida serviu para dar mais
competitividade ao produto primário, por outro lado ela acabou desestimulando a
industrialização prévia destes bens, além de prejudicar a arrecadação de vários
Estados e municípios que perderam parcela da arrecadação de seus impostos.
O Brasil é exportador de commodities, que são produzidas em escala, com pouca
diferenciação e que tem um preço inferior ao preço de um produto com valor
agregado. A minha opinião é que precisamos exportar menos commodities e mais
produtos com valor agregado, que sejam diferenciados e que sejam vendidos a
preços mais elevados.
A agregação de valor trará benefícios aos produtores rurais e em especial ao
pequeno e médio produtor que não tem como concorrer no mercado com uma
grande empresa, e que teria como opção desenvolver produtos para serem
consumidos em um nicho específico de mercado, como os produtos certificados, orgânicos, os minimamente processados etc. Mas, para isso, é preciso que ocorram
investimentos em pesquisas (vindas de institutos privados e particulares),
associativismo e o apoio do governo, além de um planejamento estratégico e o
desenvolvimento de campanhas de marketing.
Apenas para exemplificar poderia citar alguns exemplos de agregação de valor na
soja, sendo que em 1933, Henry Ford desenvolveu nos Estados Unidos o primeiro
produto feito à base de soja: um painel de carro feito de plástico de soja, e desde
esta época, novas tecnologias que incluem o grão foram descobertas.
Relativamente pouca pesquisa sobre o óleo de soja e de proteínas como
ingredientes industriais foram conduzidos até a formação da United Soybean Board
(USB) em 1991. A USB é formada por 64 voluntários agricultores (diretores) que
supervisionam os investimentos do programa de investigação e promoção da soja,
financiado pelo governo americano.
A seguir são mostrados alguns produtos desenvolvidos à base de soja e que são
comercializados no mercado americano: xampus para cães e gatos; lubrificantes
para uso geral na casa, garagens, fazendas, áreas externas; anti-ferrugem;
isolante térmico para casas; velas feitas à base de cera de soja com diferentes
tamanhos, formas, aromas e cores; produtos de limpeza para pisos, carpetes e
superfícies laváveis. Foram desenvolvidos também produtos de limpeza para
remover pesticidas de frutas e legumes; detergente para louças e roupas,
removedor de manchas; removedor de fungos e bolores além de cosméticos.
Este foi apenas um exemplo de agregação de valor em uma cadeia produtiva do
agronegócio, existem exemplos também no cacau, como o chocolate para ser
inalado e o selo com aroma de chocolate, desenvolvido pelos Correios da França
com o objetivo de conter a queda do volume de cartas com a popularização do email, do MSN, etc., além de estimular o consumo de chocolate.
Também é preciso citar o exemplo dos chocolates feitos com cacau diferenciado,
que é produzido em regiões especiais e os orgânicos, que vem sendo consumido
cada vez mais no exterior e também aqui no Brasil. Mas, é possível também
agregar valor na cadeia produtiva da laranja, do café, do coco verde, da carne
bovina e suína etc.
Atualmente com a valorização da gastronomia, o consumidor já conhece e compra
mais produtos gourmet como os cafés especiais, sendo que o consumo deste tipo de café representou 4 % do volume total de cafés consumidos em 2009, segundo a
ABIC. Desde 2003, o segmento cresce a taxas de 15% a 20% ao ano.
No Brasil temos alguns exemplos de agregação de valor, que também pode
acontecer por meio da denominação de origem, como é o caso do Arroz do Litoral
Norte Gaúcho, que obteve o selo atestando que o produto da região é diferente dos
demais produzidos no Brasil.
Este é o primeiro registro de Denominação de Origem de um produto brasileiro e o
oitavo de Indicação Geográfica do país, e o Instituto Nacional de Propriedade
Industrial (INPI) confirmou que este produto é diferenciado devido ao local em que
é produzido. A área de cultivo, localizada numa faixa de terra entre a Lagoa dos
Patos e o Oceano Atlântico, influencia a qualidade do arroz, que apresenta um
rendimento superior.
O INPI confirmou que o cereal tem características distintas e autorizou a utilização
do selo a todos os produtores da região, que conseguirem alcançar os requisitos
mínimos exigidos (são cerca de 1,4 mil produtores de arroz em uma área que
equivale a 130 mil hectares). A primeira produção de arroz com o certificado será
comercializada a partir da colheita da próxima safra, prevista para fevereiro de
2011 e a expectativa da APROARROZ é que o produto tenha valorização de 20%
em relação ao preço atual.
O Brasil possui hoje sete regiões registradas com Indicação de Procedência. São
elas: Pinto Bandeira (RS), para vinho tinto, branco e espumante; Região do
Cerrado Mineiro (MG), para café; Vale dos Vinhedos (RS), para vinho tinto, branco
e espumante; Pampa Gaúcho da Campanha Meridional (RS), para carne bovina e
derivados; Paraty (RJ), para cachaça e aguardente composta azulada; Vale do
Submédio São Francisco (BA/PE), para manga e uvas de mesa; e Vale do Sinos
(RS), para couro acabado.
Estes exemplos junto com o exemplo dos Estados Unidos mostram que é muito
melhor agregar valor e ter maiores lucros, do que exportar commodity e deixar o
lucro para os outros países. Aliás, o Brasil é conhecido como o celeiro do mundo,
mas o que adianta produzir tanto, se as estradas, os portos não dão conta de
escoar a produção? O governo tem uma parcela importante nisso, mas isso não
basta, o produtor precisa se organizar, se informar, conhecer o que vem sendo
pesquisado e tratar a sua propriedade como uma empresa rural, deixar alguns
conceitos no passado e ir em busca de novos desafios.
Profª Drª Maria Flávia de F. Tavares
Coordenadora do Núcleo de Estudos do Agronegócio da ESPM-RS