28 de maio de 2012

Exportar commodities ou agregar valores?


O agronegócio é o maior negócio da economia brasileira e da economia mundial, 
gerando mais de um terço do PIB brasileiro, quase 40% do emprego formal e no 
período de 1997 a 2009 o saldo comercial acumulado do agronegócio representou 
US$405 bilhões. O Brasil é o segundo maior exportador de soja em grão do mundo, 
é o primeiro nas exportações mundiais de suco de laranja e também é um grande 
exportador de carne bovina, de frango e suína, além de outras commodities como 
açúcar e café.  

As carnes bovina, suína e de frango representaram no valor exportado pelo 
agronegócio brasileiro em 1997 cerca de 6,8%, e em 2009 esta participação foi de 
18,4% (US$11,78 bilhões). Isto quer dizer que somos competitivos do ponto de vista 
da produção e nos aspectos tecnológicos, com significativas vantagens comparativas.   
A crescente demanda chinesa por soja em grão provocou o crescimento da 
produção brasileira nos últimos anos e segundo dados da Embrapa no período de 
1990 a 2005, a taxa anual média de crescimento das exportações de soja em grão 
foi de 14,82%, a taxa do óleo de soja foi de 8,6% e do farelo de soja, 3,16%. Esse 
grande aumento na quantidade exportada de grãos ocorreu a partir de 1996 e foi 
resultado da Lei Kandir, que desonerava de ICMS as  exportações de bens 
primários, com o objetivo de trazer mais receitas para uma balança comercial que 
na época era deficitária.  

Mas, é preciso observar que se por um lado a medida serviu para dar mais 
competitividade ao produto primário, por outro lado ela acabou desestimulando a 
industrialização prévia destes bens, além de prejudicar a arrecadação de vários 
Estados e municípios que perderam parcela da arrecadação de seus impostos. 
O Brasil é exportador de commodities, que são produzidas em escala, com pouca 
diferenciação e que tem um preço inferior ao preço  de um produto com valor 
agregado. A minha opinião é que precisamos exportar menos commodities e mais 
produtos com valor agregado, que sejam diferenciados e que sejam vendidos a 
preços mais elevados. 

A agregação de valor trará benefícios aos produtores rurais e em especial ao 
pequeno e médio produtor que não tem como concorrer no mercado com uma 
grande empresa, e que teria como opção desenvolver  produtos para serem 
consumidos em um nicho específico de mercado, como  os produtos certificados, orgânicos, os minimamente processados etc. Mas, para isso, é preciso que ocorram 
investimentos em pesquisas (vindas de institutos privados e particulares), 
associativismo e o apoio do governo, além de um planejamento estratégico e o 
desenvolvimento de campanhas de marketing. 

Apenas para exemplificar poderia citar alguns exemplos de agregação de valor na 
soja, sendo que em 1933, Henry Ford desenvolveu nos Estados Unidos o primeiro 
produto feito à base de soja: um painel de carro feito de plástico de soja, e desde 
esta época, novas tecnologias que incluem o grão foram descobertas. 
Relativamente pouca pesquisa sobre o óleo de soja e de proteínas como 
ingredientes industriais foram conduzidos até a formação da United Soybean Board
(USB) em 1991. A USB é formada por 64 voluntários agricultores (diretores) que 
supervisionam os investimentos do programa de investigação e promoção da soja, 
financiado pelo governo americano. 

A seguir são mostrados alguns produtos desenvolvidos à base de soja e que são 
comercializados no mercado americano: xampus para cães e gatos; lubrificantes 
para uso geral na casa, garagens, fazendas, áreas externas; anti-ferrugem; 
isolante térmico para casas; velas feitas à base de cera de soja com diferentes 
tamanhos, formas, aromas e cores; produtos de limpeza para pisos, carpetes e 
superfícies laváveis. Foram desenvolvidos também produtos de limpeza para 
remover pesticidas de frutas e legumes; detergente  para louças e roupas, 
removedor de manchas; removedor de fungos e bolores além de cosméticos.  
Este foi apenas um exemplo de agregação de valor em uma cadeia produtiva do 
agronegócio, existem exemplos também no cacau, como o chocolate para ser 
inalado e o selo com aroma de chocolate, desenvolvido pelos Correios da França 
com o objetivo de conter a queda do volume de cartas com a popularização do email, do MSN, etc., além de estimular o consumo de chocolate.  

Também é preciso citar o exemplo dos chocolates feitos com cacau diferenciado, 
que é produzido em regiões especiais e os orgânicos, que vem sendo consumido 
cada vez mais no exterior e também aqui no Brasil.  Mas, é possível também 
agregar valor na cadeia produtiva da laranja, do café, do coco verde, da carne 
bovina e suína etc.  

Atualmente com a valorização da gastronomia, o consumidor já conhece e compra 
mais produtos gourmet como os cafés especiais, sendo que o consumo deste tipo de café representou 4 % do volume total de cafés consumidos em 2009, segundo a 
ABIC. Desde 2003, o segmento cresce a taxas de 15% a 20% ao ano.  
No Brasil temos alguns exemplos de agregação de valor, que também pode 
acontecer por meio da denominação de origem, como é o caso do Arroz do Litoral 
Norte Gaúcho, que obteve o selo atestando que o produto da região é diferente dos 
demais produzidos no Brasil.  

Este é o primeiro registro de Denominação de Origem de um produto brasileiro e o 
oitavo de Indicação Geográfica do país, e o Instituto Nacional de Propriedade 
Industrial (INPI) confirmou que este produto é diferenciado devido ao local em que 
é produzido. A área de cultivo, localizada numa faixa de terra entre a Lagoa dos 
Patos e o Oceano Atlântico, influencia a qualidade  do arroz, que apresenta um 
rendimento superior.  

O INPI confirmou que o cereal tem características distintas e autorizou a utilização 
do selo a todos os produtores da região, que conseguirem alcançar os requisitos 
mínimos exigidos (são cerca de 1,4 mil produtores de arroz em uma área que 
equivale a 130 mil hectares). A primeira produção de arroz com o certificado será 
comercializada a partir da colheita da próxima safra, prevista para fevereiro de 
2011 e a expectativa da APROARROZ é que o produto tenha valorização de 20% 
em relação ao preço atual. 

O Brasil possui hoje sete regiões registradas com Indicação de Procedência. São 
elas: Pinto Bandeira (RS), para vinho tinto, branco e espumante; Região do 
Cerrado Mineiro (MG), para café; Vale dos Vinhedos (RS), para vinho tinto, branco 
e espumante; Pampa Gaúcho da Campanha Meridional (RS), para carne bovina e 
derivados; Paraty (RJ), para cachaça e aguardente composta azulada; Vale do 
Submédio São Francisco (BA/PE), para manga e uvas de mesa; e Vale do Sinos 
(RS), para couro acabado.  

Estes exemplos junto com o exemplo dos Estados Unidos mostram que é muito 
melhor agregar valor e ter maiores lucros, do que exportar commodity e deixar o 
lucro para os outros países. Aliás, o Brasil é conhecido como o celeiro do mundo, 
mas o que adianta produzir tanto, se as estradas, os portos não dão conta de 
escoar a produção? O governo tem uma parcela importante nisso, mas isso não 
basta, o produtor precisa se organizar, se informar, conhecer o que vem sendo 
pesquisado e tratar a sua propriedade como uma empresa rural, deixar alguns 
conceitos no passado e ir em busca de novos desafios.  


Profª Drª Maria Flávia de F. Tavares 
Coordenadora do Núcleo de Estudos do Agronegócio da ESPM-RS

10 de maio de 2012

O reflexo da folha em branco.



O quê escrever em dias assim? A folha em branco refletindo a luz, cansando "as vistas", pedindo para que a mão que segura a caneta escorregue por entre as linhas, em movimentos leves e constantes, juntando letras, formando palavras, sejam elas sem sentido, ou não, já que nem todo sentido é sentido, e nem toda falta de sentido faz sentido.

A indecisão é tamanha, e castiga uma mente cansada, subjugando um coração refém da sorte. Castigando como a Seca no Sertão, luta-se como o bravo Sertanejo que não foge à sua luta diária, nem abandona sua terra. Elevam-se as intenções aos céus, e espera-se que venha a chuva, trazendo consigo, a esperança.

Ops! Pausa, uma pequena interferência no resultado do texto.

A dúvida gera a inquietação, que acaba mostrando caminhos a seguir. Novas oportunidades, nem sempre bem sucedidas, outras nem tão fáceis de serem alcançadas. Pelo contrário, algumas tentativas geraram algo semelhante a um simples e breve afastamento, medo, barreira...
...não sei definir, apenas perceber. Sei o motivo, conheço o vilão muito bem, pra identificar que são seus ideais, o responsável pela nova barreira a ser transposta. Mas, somente se esse for o caminho a seguir. As engrenagens se movimentam com muita energia, e muita coisa pode mudar de maneira rápida.

A concentração é falha, isso é perceptível. A inquietação no mundo das ideias vence a concentração em sua forma apresentável no mundo material. Uma batalha árdua, que se perde ganhando, e se vence, sempre, perdendo algo.

Provavelmente não tenha nada definido nos próximos dias, nada que venha a me fazer tomar decisões, ou coisa do tipo. Apenas caminhos cruzados, atalhos, estradas duplas e apartes em discursos não tão elaborados, nem, certamente, pensados. Só o simples exercício de ver a mão que segura a caneta, fazendo-a deslizar pelas folhas em branco. Branco esse, que reflete toda a agitação de quem se refugia e pede abrigo entre as palavras soltas, sem sentido, para quem sabe assim, encontrar o sentido a seguir.



(Júnior Vilas Bôas)







Em tempos de seca, eleve suas intenções: http://letras.terra.com.br/luiz-gonzaga/81584/