25 de outubro de 2013

A Inebriante Arte Onírica




Foi no sonho, estavam todos os amigos presentes. Uma singela comemoração de um aniversário, dentro de um quarto, no início não, mas pouco tempo depois percebeu-se que já conhecia tal aposento. Ornamentação barata, laços de fita, bexigas de toda cor. Ansiedade traduzida pelas batidas aceleradas do coração, garganta seca e suor nas mãos, tudo pela espera da aniversariante. É chegada a hora, ela apareceu! Primeiro um convidado, depois o segundo... Você, o terceiro. Não fazia a menor ideia do que desejá-la por completar mais uma primavera, entretanto, tinha muito a dizê-la. Agindo como sempre, ela tenta evitar a aproximação, o contato físico – por medo, pudor ou qualquer outra razão – ia abraça-lo rapidamente, mas o que se viu foi uma espécie de rede que aprisionam borboletas, formada pelo par de braços que tanto a desejava. Tentou disfarçar, encontrou as palavras convencionais para saudá-la com paz, felicidade e muitos anos de vida, mesmo sabendo que a felicidade estava estampada naquele momento, pois desejara a eternidade, ali, envolto nos braços da amada. Terminada sua fala como convidado para um aniversário, permaneceu o silêncio do amante. Segurou-a em seus braços por mais tempo, deixando claro que a queria ali por alguns minutos. Continuava incapaz de traduzir em palavras o que ansiava em dizer naquele momento, mas foi ajudado pela comunicação dos corpos em contato. O silêncio foi sincero, o olhar esclarecedor. Ela apenas entendeu e aceitou o que já sabia, não era novidade o seu interesse, mesmo tratando-o como culpado por sentir e alimentar aquele sentimento. Todos esperavam, ele não percebia, não enxergava nada mais ao seu redor, ela envergonhara-se, não sabia ao certo como reagir. Primeira tentativa, ela desvia, ele teme a rejeição, um aperto no coração. Todos os outros presentes soltam aquele “uhhh”, como uma torcida num estádio, depois que a bola passa beijando a trave. Vem a segunda tentativa, ela deixa aparecer um sorriso de canto, demostrando timidez, a “torcida”, entusiasmada, grita como empurrando o time pra frente, ele respira, mantém a calma, sabe que não pode desperdiçar aquele momento. Não abraça a euforia dos outros, entende que pra ele vale muito, é a ponte para a eternidade. Então, levanta a cabeça, olhos nos olhos, sua vista confusa por ter os olhos marejados, passam um tempo até se conectarem através do olhar, os corpos recebem o sinal. O “estádio” antes cheio, agora está vazio, o tempo parou, os lábios se tocaram, o beijo aconteceu. Por dentro, o coração sentindo o pulsar da vida, assustava-o. Terminado o beijo, olhou-a, sorriu, uma lágrima escorreu. No peito, algo continuava a sufocá-lo... Acordou...

Foi no sonho.




(Júnior Vilas Bôas)

PS: A escrita do texto, juntamente com a postagem, foi acompanhada pelo som do novo Cd de Humberto Gessinger, Insular. Fica a dica musical!

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