27 de maio de 2011

O que eu adoro em ti
Não é a tua beleza
A beleza é em nós que existe
A beleza é um conceito
E a beleza é triste
Não é triste em si
Mas pelo que há nela
De fragilidade e incerteza

O que eu adoro em ti
Não é a tua inteligência
Não é o teu espírito sutil
Tão ágil e tão luminoso
Ave solta no céu matinal da montanha
Nem é a tua ciência
Do coração dos homens e das coisas.

O que eu adoro em ti
Não é a tua graça musical
Sucessiva e renovada a cada momento
Graça aérea como teu próprio momento
Graça que perturba e que satisfaz

O que eu adoro em ti
Não é a mãe que já perdi
E nem meu pai

O que eu adoro em tua natureza
Não é o profundo instinto matinal
Em teu flanco aberto como uma ferida
Nem a tua pureza. Nem a tua impureza.

O que adoro em ti lastima-me e consola-me:
O que eu adoro em ti é a vida!
Manuel Bandeira



Fonte: http://pensador.uol.com.br/poemas_de_manoel_bandeira/

22 de maio de 2011

Entre dor, sem pudor, ser a dor.



Ser refém do fado, mesmo sem conhecê-lo pessoalmente, torna-nos muito fracos. Incapazes de reagirmos diante das adversidades que nos são apresentadas, sem aviso prévio. Força-nos a aguentar uma situação de desespero no maior dos nossos sonhos, no melhor do sono, onde, quando se estar acordado, tudo desmorona, desmancha no ar.

Não se tem motivo para lamentar, a situação já se apresentava constante desde o princípio, e durante esse tempo foi que evoluiu. Foi durante o tormento que, inerente a ele, tivemos sua transformação. Então, já que é assim, deixa-me mais calmo em saber que não cometi erros em momento algum. Esperar ainda continua sendo a melhor alternativa.

Entretanto, a bola de neve já cresceu tanto que é como se os dois fossem um só. Fazendo parte de cada, em um todo, de todos os pedacinhos. Mas ainda não plantamos, como "colher a flôr?" Como virar raiz nesse chão? A semente continua em meio impróprio, labutando num solo que não chega a ser infértil, pelo contrário, apenas usando de um agente de "mascaramento", escondendo desejos, vontades e realidades.

A estrada ainda é inimiga na maioria das vezes, dando um choque de realidade, em quem deseja sonhar, e faz do "mundo das ideias" a melhor companhia, quando, no "mundo dos sentidos", nada flui.



(Júnior Vilas Bôas)

15 de maio de 2011

À beira da caverna.



O que tem para ser escrito? O que tem para ser falado? Apenas aceitar calado a condição presente, que maltrata abertamente, sem pedir licença ou dizer ao menos um bom dia!, chega a todo momento, seja ele esperado ou não. Já não se pode esperar uma antecipação, fica cada vez mais imprevisível.

Pode já estar acontecendo no tão falado por Platão: Mundo das ideias. Essa concepção filosófica de Dualismo, que se baseia na presença de dois princípios, ou duas substâncias ou duas realidades opostas e inconciliáveis, apenas às vezes, não muito, mas nesses momentos sim, ganham muito valor e relevância.

A comparação ganha bastante força tomando-se como base esse dualismo, onde sabe-se da existência do "mundo das ideias" e do "mundo dos sentidos". Para Platão, tudo que se pode tocar e sentir na natureza "flui". Portanto, tudo presente nesse mundo está sujeito à corrosão devido ao tempo. Lembra-me algo, "tudo que é sólido desmancha no ar." A partir dessa afirmação, mantêm-se acesas algumas chamas, de fato que no mundo dos sentidos não temos tanta certeza, já que somos passíveis de erro. Entretanto, no mundo das ideias, a ideia principal já está formada em algum lugar, esperando apenas o momento propício para atingir à superfície, definindo a forma que irá seguir.

Neste mundo, não que tudo seja possível - também deve haver suas limitações - mas, sabe-se que, para alcançá-lo e conhecê-lo, não se pode fazer através dos sentidos. E já que primeiro vem a ideia para depois as formas do mundo dos sentidos, nota-se que existem alguns medos, mas em grande parte, na grande maioria, tudo está no caminho certo.


(Júnior Vilas Bôas)








Fonte: O Mundo de Sofia
http://www.inf.ufsc.br/poo/conceitos/platao.html

5 de maio de 2011

Status quo



Só em imaginar uma situação ainda mais adversa já causa uma apreensão. O que também é engraçado, pois a situação já não é favorável, porém, acredito que por já ter sido apresentada a mim desta maneira, o receio seja menor.

O que foi pensado naquele momento? Será que conseguir me sintonizar, a ponto de vibrarmos na mesma frequência? Ali, enquanto se resolvia. Acredito que por menor que tenha sido, passei por entre aqueles pensamentos.

O jogo psicológico já provou que é importantíssimo nesses casos. É um aliado muito forte, apresentando-se na hora certa, quando sua defesa está vulnerável. Entretando, é notório também, que ele não pode durar para sempre, nem ser usado com frequência, senão vira uma fantasia, uma utopia quase.

Mitos já foram criados para tentar explicar os fenômenos naturais. Chegaria a ponto desse feito, se a situação permanecer irrealizável.

"Se tu quizer, eu invento o vento pra ventar o amor,
uma chuva bem chovida, pra chover pé de fulô;
Pra tu ficar cheirosa e vir dançar mais eu.

Se tu quizer, poemo um poema bem cheio de rima,
acendo a estrela mais bonita lá de cima,
faço tudo que puder pra tu ficar mais eu..."


Júnior Vilas Bôas

2 de maio de 2011

Uma foto 3x4





Acaba que desenha o caminho inverso, da maturidade à adolescência. Ao tempo da insegurança, do frio na barriga. Nunca perder essa essência é importante, torna-nos reais, palpáveis. Porém, desarma-nos! "Tudo Flui", disse Heráclito. Para ele, " as constantes transformações eram justamente a característica mais fundamental da natureza".

Sabe-se que a mudança é a única certeza da vida, entretanto, o que não se sabe é qual rumo tomar. Qual a ponte entre o seguro e o inseguro? O que os separa? O anagrama de "roma" é o que separa a terra da vida, da terra da morte, alguém já dizia isso. Quem aí segura as rédeas do próprio destino? Quer dizer, quem acredita em destino? As perguntas movem o mundo, dão a ele uma dinâmica, relacionando-o às forças que exercem sobre ele. Forças atrativas, de repulsa...até elas devem ter uma ordem para acontecer, mudar o sentido. De qual das duas é a vez?

"...como é difícil acordar calado, se na calada da noite eu me dano.
Quero lançar um grito desumano, que é uma maneira de ser escutado..."

Como sempre, tú Chico, tens razão. O silêncio atordoa, as frases continuam curtas, imagina-se mais. Abre-te os olhos, enxerga o que todos já viram, e busca voos mais altos. Não te prende à primeira impressão. Enganam-se facilmente, não dando o certo valor de cada um no momento certo. Acaba que caminha pelo lugar errado. Às vezes, vejo isso como uma espécie de blindagem. Fica difícil atingir quem não está no pelotão de frente. Será também, que é pedir demais? Por maldade não deve ser. Imagino que por algum tipo de medo, fico com essa opção, na maioria das vezes.

Tudo está se movimentando, logicamente, nada irá durar para sempre. Com isso, pode-se concluir:
"Tudo que é sólido, desmancha no ar."